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Presidente da República nos Álamos para a inauguração do Ano Académico 2017/2018 nas novas instalações

Presidente da República nos Álamos para a inauguração do Ano Académico 2017/2018 nas novas instalações

Dezembro 23, 2017

 

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(Fotografia: Filipa Martins)

Dia 21 de novembro foi um dia histórico para os Álamos! Tivemos connosco Sua Ex.ª o Senhor Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, na conferência inaugural do ano académico 2017/2018, a primeira a ser proferida nas novas instalações na Alameda da Universidade.

Inicialmente prevista para 17 de outubro, esta conferência teve que ser reagendada devido à calamidade dos incêndios que, pela segunda vez este ano, de forma brutal assolaram o país, levando à trágica perda de mais de uma centena de vidas humanas e uma incomensurável perda material, quer em património natural quer cultural. O nosso Presidente não podia estar senão lá, naqueles dias em torno ao 17 de outubro… Contudo, com a sua imensa boa vontade, conseguiu voltar a colocar-nos na sua “agenda impossível”, o que nunca agradeceremos bastante.

Na hora prevista do fim de tarde desta terça-feira outonal, esperavam-no uma sala cheia de estudantes universitários desejosos de ouvir o que o Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa e atual Presidente da República nos iria dizer sobre o que é “Ser Universitário Hoje”.

Dado tratar-se também de um evento inaugural da “nova casa” dos Álamos, teve lugar o exigido discurso de boas vindas e agradecimento da atual diretora, Margarida Marcelino, durante o qual nomeou com especial ênfase os representantes da Fundação Maria Antónia Barreiro, proprietária do edifício, ali presentes: o Dr. José António Alves Mendes e o Dr. Francisco Oliveira Dias.

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(Fotografia: Rui Ochoa)

Seguiu-se o enquadramento da conferência por duas caloiras: a Teresa Patrício Gouveia, estudante do 1º ano de gestão na FE/UNL, de Lisboa, estudante não residente dos Álamos mas que frequenta as suas atividades; e a Mariana Cristo, estudante de CPRI na FCSH/UNL, de Atouguia da Baleia, residente dos Álamos. Foi empolgante e, com elas, empolgados ficámos todos, Presidente incluído: “(…) Tendo sido Professor na Universidade e, inclusive, tendo sido um dia caloiro como nós, estamos muito curiosos e expectantes sobre o que nos tem para dizer. É uma honra tê-lo aqui hoje. Aprender consigo. Conversar consigo. Partilhar a nossa casa consigo. A si, temos-lhe a dizer: Bem-vindo, Senhor Presidente!”

A intervenção do nosso Presidente foi verdadeiramente inspiradora para todos os que ali estávamos presentes, mantendo-nos em suspenso ininterruptamente entre as 19h45 até depois das 22h!

Depois de ter relembrado as quatro anteriores vezes que esteve nos Álamos, tendo conhecido as suas duas anteriores instalações, assim como o seu contacto com o Opus Dei desde estudante universitário, fez uma análise panorâmica do mundo e do país: o que o mundo hoje coloca como desafios; o que Portugal coloca hoje como desafios; o que se espera dos estudantes, em particular dos estudantes católicos.

Referindo as profundas diferenças entre o mundo de hoje e o de há 50 anos – do ponto de vista geopolítico, da ciência e da tecnologia, etc. -, ressaltou a influência crescente do relativismo e a correspondente dificuldade em defender valores comuns e legitimar critérios morais nos âmbitos da atuação económica, social, política.

Em relação a Portugal, destacou em particular a evolução do país pós 25 de Abril de 1974; 40 anos de profundas alterações, “compactadas” no tempo, que se traduziram no atual estado que ainda hoje se vive, como que “de ressaca”: “descolonizar em dois anos, democratizar em 8 anos, passando das nacionalizações às reprivatizações; integrar-se na Europa em 8 anos, e mais 12 anos para aderir à moeda única…”, acrescidas das crises financeiras globais que bem conhecemos.

Num balanço positivo desta evolução, desafiou os presentes a contribuir para colmatar a necessidade que Portugal tem de “ter uma democracia com mais qualidade, porque a nossa envelheceu rapidamente; precisamos de uma democracia mais próxima das pessoas, mais participada.” E, numa abordagem mais global, contribuir para “refazer a Europa, porque está relativista, este é o vosso desafio. Dignidade da pessoa humana concreta, o vizinho do lado. Aquele que mais precisa. Tens paciência para ele? Estás disponível? Mas isso é que é verdadeiramente olhar para os outros. Uma economia que seja mais justa, mas viável. Este é o vosso desafio. Nós, portugueses, estamos a intervir fora, no México, na Colômbia, na Ásia, em África… Reinventar a nossa economia, é o vosso desafio.”

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(Fotografia: Rui Ochoa)

Seguidamente o Presidente da República dirigiu-se de forma mais veemente aos universitários presentes na sala e para oportunidade única do período da vida na Universidade. “A Universidade é crucial. Não a desperdicem! Cada hora desperdiçada, cada minuto desperdiçado, é criminoso. Aproveitem o tempo universitário que é único. (…) A Universidade é a fase final da descoberta dos vossos carismas e talentos. Aqui entra uma componente católica, cristã, que vale para vocês, mas, na verdade, também para qualquer pessoa. Aproveitem esse tempo porque têm o dever de serem felizes!

Começamos a criar uma identidade nesta vida naquilo que fazemos, nas pequenas grandes obras, mas ninguém é feliz se não fizer os outros felizes. A nossa felicidade passa pelos outros. Não é preciso ser cristão para saber isto. É-se mais feliz quanto mais se faz felizes os outros. O que é que deste aos outros? (…) Isto implica estar atento aos sinais dos tempos; se estiverem distraídos não sabem o que se passa à vossa volta. Estejam atentos às outras pessoas. Uma palavra, um gesto, uma atenção. Há muito quem esteja sem estar. Está o corpo, mas não está o espírito. A atenção a um caso concreto de uma pessoa faz a diferença.”

E, referindo-se às estudantes presentes, destacou: “Vocês são privilegiadas. Há milhões de raparigas que não chegam à Universidade. (…) Vocês têm acesso a conhecimento que têm o dever de colocar ao serviço dos outros. (…) Vocês são ainda a minoria.
Mas o mais importante é que vocês sejam boas pessoas. (…)”

O conferencista continuou a sua exposição até ao final fazendo recomendações existenciais aos universitários, o que, no fundo, veio totalmente ao encontro do tema que lhe tinha sido sugerido para este início de ano académico:

“Vocês têm carismas e talentos na sua expressão inicial. A vocação. Não guardem os talentos, mas rentabilizem-nos, no domínio em que acharem melhor. Descubram-nos. Aproveitem também o vosso caminho. Carreguem baterias, rezem, para estarem mais despertos. Olhem para os apelos que surgem à vossa volta e vejam os sinais. Aprendam a resolver problemas de uma forma equilibrada. Saber enfrentar situações. Saber comunicar, saber utilizar as tecnologias da comunicação, porque não aproveitar isso dificulta a vossa vida. Saibam localizar o tempo e o espaço.

Dito isto tudo, sejam o que são.”

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(Fotografia: Rui Ochoa)

Seguiu-se um espaço de perguntas por parte dos presentes, desejosos de ouvir ainda a opinião do Presidente da República para algumas situações concretas. Ficam aqui alguns tópicos das respostas dadas, na impossibilidade de as recolher na totalidade: à Magui Lopes, à Rita Costa, à Pipa Montenegro, ao Pedro, aluno de História na FLUL, à Ana Teresa Mota, à Dulce Frazão, à Nhara Almada. E muitas outras mais se teriam feito se o adiantado da hora e a fome de todos os presentes não tivesse imperado o términus deste fim de tarde tão rico.

  • Sobre como não seguir a lógica do mercado de trabalho, que valoriza mais as ‘skills’ e os ‘pitchs’ de cada um, e na qual não nos revemos. “O importante é aprender a resolver problemas de forma equilibrada: coração, cabeça, vontade; a saber enfrentar situações. O importante é aprender a saber comunicar, também usando as TIC e não sendo info-excluídos – o que não é essencial, mas ajuda. Mas o importante é que sejam o que são, mesmo não correspondendo ao que está na moda. É mais importante a substância que a imagem, apesar de vivermos na ‘sociedade da imagem’. Não sacrificar o fundamental pelo acessório.”
  • Sobre o surgimento de NEC – Núcleos de Estudantes Católicos – em várias universidades: “Não aceitem que vos proíbam a expressão pública da vossa fé. A Constituição diz que há liberdade religiosa em Portugal. Expressão no espaço público, enquanto cidadão e crente, sem separar os dois espaços. O crente de uma religião é-o em todo o lado e em qualquer momento, tal como ser cidadão. Podem e devem bater-se publicamente pelos vossos valores. E tudo é menos importante que a opção de fé. A fé projeta-se em todos os domínios; nenhum deles se exclui da fé. Quando me identifico, identifico-me como católico. Sendo Presidente de todos os portugueses, eu não devo deixar de exprimir aquilo que são as minhas posições de princípio, desde que isso não choque com a representação de todos os portugueses e com as posições dos outros. Assim o entendo. Nada de complexos, …desde que não se violem os direitos de outrem, desde que não se imponham aos outros as nossas convicções, desde que não se forcem os outros a crerem… Deixar de exprimir as próprias convicções porque estamos no espaço público é que não é normal. A Universidade cumpre a Constituição e a Constituição é aberta à expressão da liberdade religiosa. Todas as religiões devem ter acesso à sua expressão no espaço público.”
  • Sobre a importância de manter os valores e a responsabilidade pelo mundo em geral sem se ser ultrapassado e atropelado pela sociedade individualista. “A vida é como um ‘rally-paper’, com um guião próprio que se tenta seguir, mesmo com os erros próprios de percurso – e são muitos. O nosso guião é o Evangelho. Muitas vezes vive-se obcecado com a nossa própria realização pessoal, o que é um autêntico vazio, e não olhamos para os outros que estão ao nosso lado. Todos temos a tentação do egocentrismo. O difícil é respeitar a dignidade do “chato” quando nós temos coisas importantíssimas para fazer. Prestar atenção, ouvir, ter uma palavra… Isto é o que temos que fazer sempre como cristãos.” (Refere a experiência na visita ao Nariz Vermelho e na atenção a um sem abrigo) Resistir ao individualismo e escutar os apelos de solidariedade social.”)
  • Sobre a ignorância e falta de contexto histórico de tantos concidadãos e das próprias elites, políticas também: “Um dos problemas que hoje existe na chamada classe política é a ignorância de história e de geografia e, mais amplamente, de cultura geral. Lê-se muito pouco, estuda-se pouco, conhece-se pouco… A lacuna histórica é dramática. Há muitos lugares paralelos na História e aprende-se muito conhecendo História. Há um lastro na função presidencial que vem da monarquia, o papel do rei. Na ditadura é muito clara a distinção entre a magistratura presidencial e a função do governante. Um dos problemas na governação portuguesa, em sucessivos governos, é a falta de conhecimento histórico. Alguns dos maiores erros cometidos têm a ver com isso. As pessoas não se lembram nem conhecem situações idênticas, nem o seu impacto, nem o consequente juízo por parte da História, são tábuas rasas: os riscos que se correm são enormes, por ingenuidade e impreparação. Encontro essa lacuna nos meus alunos mas também, o que é mais grave, em quem tem funções de responsabilidade.”
  • Sobre como vencer e ultrapassar a timidez natural, a partir da tentativa de uma das residentes de fazer uma pergunta: “Procurar ultrapassar a timidez. É importante esforçar-se – tarefa facilitada se se tem um grupo de amigos. Alguns dos mais criativos foram tímidos; logo, ser tímido não é dramático. Procurar esforçar-se por falar, ter mais ter iniciativa, arriscar, …”

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(Fotografia: Rui Ochoa)

  • Sobre o futuro do sistema de ensino e a necessidade de reforma para que os cursos técnico-profissionais tenha mais prestígio. “Não há modelo ideal de estudante universitário, uma vez que todos somos diferentes. Somos todos imperfeitos e diferentes nas imperfeições, e ainda bem que assim é. O importante é que cada um seja feliz no seu caminho, que vai descobrindo, e que corresponda ao percurso e carismas de cada um. A tendência, em Portugal, é que 50% tenha formação técnico-profissional. Importância do alargamento do leque de conhecimentos – ‘banda larga’. É bom ter diversas atividades ao longo da vida. No futuro o importante é que a formação académica de cada um corresponda àquilo que se quer fazer, e que os cursos sejam mais instrumentais. Já há mais flexibilidade, mas deve haver muito mais.“
  • Sobre o pedido de recomendações especiais para os caloiros a partir da experiência própria: “Um ano letivo ganha-se ou perde-se nas primeiras semanas. Agarrar o ano letivo logo no princípio. Recolher o máximo de apontamentos e sistematizá-los. Antes de cada aula seguinte, ver o que se deu na anterior e preparar bem. Não deixar passar de semana para semana e acumular matéria. Fazer o resumo, pelo menos ao fim de semana, melhor se diariamente. Tentar equilíbrio no grupo com quem se estuda, ter alunos melhores e piores como amigos. Alargar horizontes com solidariedade uns com os outros. Ajuda muito escrever e fazer revisões orais em conjunto. Fazerem perguntas uns aos outros, porque ao falar e argumentar vai-se fixando o conhecimento. Criar hábitos de disciplina, começando por ir às aulas. Eu tinha uma maneira de estudar peculiar: misturava as matérias, porque tenho um poder de concentração enorme, e assim descansava. Hoje a vossa desconcentração é máxima por causa do ‘zapping’ da internet… E isso é um problema brutal. Autodisciplina para se maximizar o trabalho que se tem. As diretas dão sempre um péssimo resultado. Especialmente para os mais frágeis: tomem vitaminas, mais se for no inverno! O cansaço dá uma quebra de rendimento brutal. Se o primeiro ano corre bem, é mais fácil a motivação para continuar. Engrenar bem no estudo logo no início da vida na Universidade. E, não arriscando, conjugar com o resto da vida académica e associativa. É um esforço que se impõe.”
  • Houve ainda ocasião para uma pergunta que abordou a relação entre Portugal e Cabo Verde, a propósito da qual o conferencista referiu a especificidade das questões em causa e a dimensão diplomática das mesmas.

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(Fotografia: Rui Ochoa)

No final, oferecemos o que tínhamos preparado com todo o carinho: uma caricatura eximiamente desenhada pela nossa caloira Ana Teresa Mota, acompanhada das palavras que a mesma nos suscitava, transparecendo aquilo que todos temos visto no exercício da Presidência da República pelo Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa: atenção | preocupação | interesse | observação | escuta |agudeza | orgulho pelo povo | honradez | admiração | intervenção | resolução | sensibilidade | proximidade | abertura | comoção | humanidade | afabilidade | fraternidade |afeto | incentivo | paixão | compaixão | mais.

Seguiu-se a tão esperada oportunidade de fazer “selfies” com o Senhor Presidente, tanto individuais, como em pequenos ou grandes grupos, incluída a que foi possível com alguns dos muitos estudantes que hoje estiveram nos Álamos, escadaria acima.

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(Fotografia: Rui Ochoa)

Mas a passagem do Presidente da República nos Álamos não terminou com a conferência inaugural do ano académico 2017/2018!

Dado o adiantado da hora – passava das 22h e ainda lhe queríamos dar a conhecer as novas instalações -, o Senhor Presidente acedeu ao convite para ficar um pouco mais, tendo-se trocado o aperitivo inicialmente programado por uma refeição na sala de jantar, agora já só com as residentes dos Álamos e alargado à pequena comitiva que o acompanhava. Foi mais um momento inesquecível, em que o diálogo ameno se prolongou e enriqueceu. Depois de mais uma vez mostrar com factos que qualquer trabalho é digno, mesmo para um Presidente da República e Professor Universitário (a custo saiu da cozinha onde, apesar da nossa tentativa de dissuasão, chegou mesmo a iniciar o lavar da loiça), seguiu-se a visita à casa – oratório, quartos, salas de estudo, biblioteca…

Na sala de estudo grande voltámos a pedir que nos escrevesse umas palavras no histórico Livro de Honra dos Álamos, onde ficou registado, para agora e para a posteridade, o texto que em parte transcrevemos. Um texto que não só muito nos honra mas a todas muito nos compromete, e que além disso reflete como foi histórico esta terça-feira, 21 de novembro de 2017, na Residência Universitária dos Álamos:

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(Fotografia: Filipa Martins)

“Desta feita, foi inultrapassável!

(…) Ter a mais longa conversa com jovens universitárias, culminando num jantar familiar. Tudo numa Residência nova, tão bem projetada e vivida!

Sempre sob a protecção divina, e com a certeza de que todas serão grandes portuguesas e sobretudo Pessoas disponíveis para servirem os outros!

Bem-hajam!

Orgulho-me de ser Presidente de compatriotas assim!

Marcelo Rebelo de Sousa

Lisboa, 21 de Novembro de 2017”

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(Fotografia: Patrícia Neto)

Post scriptum:

Já em Dezembro, na semana que antecede a do Natal, tivemos a grata surpresa de receber mais um presente de Sua Ex.ª o Presidente da República: uma fotografia na escadaria dos Álamos com um bom grupo de residentes e amigos, da autoria do fotógrafo da Casa da Presidência Rui Ochoa, autografada pelo Presidente da República! Mais um mimo que não sabemos como agradecer! Mostramos a quem no-la pedir para ver